No Diário Liberdade informamos sobre a greve que desenvolveu durante muitas semanas o colectivo de trabalhadores e trabalhadoras das instalaçons desportivas na Galiza, por umha melhoria nas condiçons de exploraçom que padecem por parte de empresas adjudicatárias de um serviço progressivamente privatizado polas administraçons públicas.
O resultado da luita, após 47 dias de greve durante os passados meses de Fevereiro e Março, foi a conquista de algumhas melhorias laborais, mas nom faltárom represálias «exemplarizantes» posteriores, dirigidas polos patrons aos elementos mais destacados da luita.
É o caso de Francisco Manrique, trabalhador da empresa Xade (empresa do Multiusos de Sar e Santa Isabel, em Compostela), que foi fulminantemente despedido no final do conflito laboral a que fazemos referência. Um caso de repressom sindical que tem tido pouco eco nos meios de comunicaçom e sobre o qual quigemos falar com o protagonista que o sofreu.
DL – Quanto tempo levavas a trabalhar para Xade e como representante sindical dos teus companheiros e companheiras?
Entrei na empresa em junho 2001 e fum delegado de pessoal entre 2003 – 2007, mas sempre tivem claro que devíamos melhorar as nossas condiçons laborais, com salários médios de 750 euros por mês, pagas extras já incluídas. E estes salários pagavam-se numha empresa pública com instalaçons construídas com os recursos de todos, mas geridas por unha empresa privada, XADE, que em 2008 declarava uns rendimentos de 3,6 milhons de euros.
DL – De que condiçons laborais partíades para chegardes a convocar umha greve indefinida e um longo conflito como esse?
A maioria das empresas estám regidas por o convénio estatal de instalaçons desportivas assinado por CCOO, que estabelecia salários de pouco mais de 700 €/mês. Na nossa empresa estávamos no convénio de academias e iniciamos antes a luita sindical, em 2004, concluindo com um acordo em Novembro de 2005, no qual conseguimos melhorar o salário em nove pontos percentuais, umha paga extraordinária, cobertura de 100% das baixas e elevar até 70% os contratos indefinidos. Na greve deste ano também participei, mais os apoios em XADE fôrom menores, o que facilitou a repressom posterior por parte da empresa, que concluiu com o meu despedimento. No resto das instalaçons vinha germolando o mal-estar polo convénio estatal e em 2007 começárom os protestos. Nesta luita, os companheiros e companheiras da Corunha fôrom fudamentais. O Patronato estivo a evitar compromissos um ano e a 5 de Março de 2008 figemos a primeira greve; aí sentárom-se a negociar e continuárom sem se comprometer, por isso no fim de 2009 convocamos vários dias de greve e em Fevreiro foi indefinida.
DL – Qual foi o resultado? Conseguírom-se os objectivos marcados?
O primeiro de Março, os empresários cedêrom e chegamos a um acordo de convénio interessante. Passamos de salários de 800 € até praticamente 1.000 €/mês, reduz-se a jornada para 38 h,oras eliminam-se os horários irregulares para contratos menores, cobre-se 85% do salário em situaçom de baixa e todo isto mantendo as condiçons daquelas empresas em que estavam melhor. De todos os jeitos, estamos a ultimar os detalhes do novo convénio de desportos no Conselho Galego de Relaçons Laborais e o Patronato continuam a raposear.
DL – Tinhas recebido advertências anteriores da empresa que te figessem pensar num ataque directo como o que recebeste? Como se produziu o despedimento?
Quase desde o primeiro dia, já que apenas três meses depois de começar a trabalhar na empresa nom me renovou por promover eleiçons sindicais em XADE. Conseguim voltar, de novo promovim eleiçons e a empresa respondeu com candidatos amarelos. Nada disto impediu que terminasse por ser delegado e que iniciássemos a luita que concluiu com o acordo de 2005.
Com posterioridade, tivem que denunciar a empresa por me impor horários abusivos e ganhei. Além disso, retiro-me de dar aulas limitando a minha funçom a socorrista, e outro tipo de pressons. A começos do 2009, a direcçom instava o actual Comité de Empresa da UGT a denunciar-me por um boletim crítico que publicara a CIG, mas nom tivérom coragem para tal cousa. Todos sabíamos na empresa que ma tinham guardada, de facto, as advertências por pequenas faltas eram quase em exclusiva para mim. A chave da segurança dos que luitam está em manter o apoio de um grupo significativo de companheiros e companheiras. Se o perderes, és vulnerável. Tamém cumpre ter a assessoria de um sindicato decente, como foi a CIG no meu caso. E, finalmente, ter umha atitude activa, nom ficar à espera, como umha ovelha, os movimentos dos patrons, e sim levar a iniciativa, fazer participes os companheiros do que fás ainda que tenhas que puxar do carro, ainda que muitos prefiram manter a boa relaçom antes que a justiça. Se fores um bom companheiro, o pessoal respeita-te e é mais difícil que fiques vendido e a empresa poda olhar-te à cara.
DL – Qual foi a reacçom dos sindicatos, nomeadamente do teu, e dos teus companheiros?
O meu sindicato, a CIG, apoiou-me em todo o momento ainda que seja curioso que a minha Federaçom, a de ensino, na qual milito desde 1992, passou olimpicamente e nem se dignárom a enviar umha única pessoa às concentraçons, nem sequer a falar comigo; Ao contrário, a a federaçom de serviços foi a que me apoiou. Devem ser «contradiçons no seio da vanguarda».
A reacçom dos companheiros foi variável desde que começamos a fazer sindicalismo na empresa: expectantes ao princípio, durante a luita houvo unha divisom do quadro de pessoal em três blocos: os que participárom activamente, os passivos que tinham medo mais nom eram traidores, e os vendidos. Após o acordo de 2005, véu a desmobilizaçon geral, o escapismo e o medo, e nesta última luita polo convénio galego fiquei só, apenas amparado por acçons solidárias de umha minoria, e aí vinhérom por mim. Continuo a luitar por fora, mas tampouco pretendo expor os poucos que me apoiárom; agora vou continuar a luitar a partir doutros ámbitos, que nom todo se reduz ao legalismo e, quer ganhe quer perda, polo menos havemos de seguir a palavra de ordem: «nengum despedimento sem resposta».
DL – Vistos os resultados para o colectivo de trabalhadores e para ti como activista sindical, achas que a luita valeu a pena?
Para mim é unha questom de princípios, nom de resultados, por isso sempre vale a pena. Além disso, sim se consiguem melhorias que som legítimas e isso está bem. Pode ter algum custo, pode haver algum prejudicado como é agora o meu caso, mas se nos paralisar o medo, se ficarmos à espera dos cobardes, nunca nos mexemos, e isso nom pode ser. Os avanços laborais sempre tenhem um custo, mas é a única maneira que conheço para avançar.
DL – Em Compostela governa umha coligaçom do PSOE com o BNG. Qual é a tua visom sobre a crescente precarizaçom do emprego no sector serviços e sobre o papel dos governos ditos «progressistas» nesse processo?
Tenhem unha postura escapista diante da gestom dos serviços públicos, e cada vez mais optam por fórmulas de privatizaçom, como neste caso das instalaçons desportivas ofertando a gestom ao melhor postor, esquecendo-se das condiçons laborais. Unha mostra mais da dissoluçom dos valores de esquerda destas duas organizaçons. Do PSOE nom há que surpreender-se, mas o do BNG, onde eu entrei a militar há mais de 20 anos, é mais triste. Eu nom fago mais que pôr em prática os valores e atitudes que aprendim nessa organizaçom e encontro a incomprenssom ou o cinismo.
Alguns popes sindicais do Bloco Nacionalista Galego diziam-me «se queres isso fai-te funcionário», ou seja, salta do barco e deixa a precariedade da empresa como está, nom luites, foge. Ou «Paco esse é um assunto sindical, nom político», e eu ainda nom vejo a diferença. Até tivemos um vereador dos Desportos que me explicava que nom ia renunciar aos contributos económicos da nossa empresa para o desporto local por se implicar nos nossos assuntos sindiciais, e hojé anda a mendigar às portas do PSOE.
O BNG mudou, já nom é o que dizia ser, está mui virado para as clases médias e estes problemas nom lhes interessam; andam ao voto de centro e os nossos problemas nom cabem aí. Repara: há dez anos, quando entramos a governar as cidades grandes, eu figera umha emenda aos textos da Assembleia Nacional do BNG, que foi rejeitada, com o objectivo de reduzir os salários dos cargos públicos ao dobro do salário médio do País, tamém figem outras para garantir que os salários dos empregados de concessionárias municipais nom baixassem do dobro do SMI. Ou seja, negam o tope por cima e negam o tope por baixo, todo muito liberal. Sempre tombabam estas emendas os mesmos, os que enchem a boca com o povo, com o comunismo… e som os mais conservadores.
Suponho que nom é estranho que quase nom acudam companheiros do BNG aos nossos actos reivindicativos e, curiosamente, haja muitos e muitas mais independentistas.
DL – Obrigado polas tuas respostas e parabéns pola coragem e o exemplo, companheiro.
Pode acompanhar-se o conflito com a empresa Xade no blogue: http://xadesolidariedade.blogspot.com/
A luita continua e nesta quinta-feira dia 6 de Maio, às 20:30 h, haverá umha nova concentraçom, a terceira, de protesto em frente do Multiusos do Sar. Na sexta-feira, encontro no S.M.A.C. com a empresa à primeira hora da manhá.
Encorajamos os e as trabalhadoras que nos lem a aderir à campanha de solidariedade com o companheiro Francisco Manrique.