O show do muro

Um capi­ta­lis­mo atra­ves­san­do umha das pio­res cri­ses sis­té­mi­cas das últi­mas déca­das empre­ga o vigé­si­mo ani­ver­sá­rio da que­da do Muro de Ber­lim para incre­men­tar ain­da mais as ele­va­das doses de deci­bé­lios alie­nan­tes que neces­si­ta para existir.

Com enor­me expe­riên­cia nas pio­res artes da mani­pu­laçom nom des­apro­vei­ta a menor opor­tu­ni­da­de para imple­men­tar velhas, mas sem­pre actuais, tác­ti­cas artei­ras de propaganda.

Com tan­to barulho con­tri­bui para des­viar a ate­nçom das difi­cul­da­des do pre­sen­te, semen­tan­do deses­pe­ra­nça entre opri­mi­dos e opri­mi­das na sua cada vez mais neces­sá­ria superaçom.

Nom vamos ser nós que reali­ze­mos um pane­gí­ri­co do sis­te­ma eco­nó­mi­co-social vigo­ran­te na des­apa­re­ci­da RDA, mas tam­pou­co have­mos de somar-nos ao hipó­cri­ta coro de opor­tu­nis­tas que cola­bo­ram em res­sal­tar as exce­lên­cias da sua que­da para a “deseja­da uni­da­de ale­má, a cons­truçom euro­peia e a demo­cra­cia no mun­do”. Meros sofismas!

“O des­en­vol­vi­men­to das forças pro­du­ti­vas sem ideo­lo­gia nom me inter­es­sa”, afir­mou com con­tun­dên­cia e luci­dez o Che em ple­na esplen­dor do mode­lo enca­beça­do por Willi Stoph.

O socia­lis­mo nom pode ser sim­ples­men­te umha dis­tri­buiçom equi­ta­ti­va da rique­za, tem que ser tam­bém a cons­truçom de umha nova socie­da­de ali­ce­rça­da sobre novos valo­res e umha nova moral na que a par­ti­ci­paçom popu­lar deri­ve de umha volun­tá­ria adesom.

O mun­do de hoje tem mais muros que em 1989. Des­apa­re­ci­do um dos mitos anti­co­mu­nis­tas mais efi­caz­men­te uti­li­za­dos polos defen­so­res da infá­mia que expor­ta misé­ria, dor e vio­lên­cia a todo o glo­bo, o mun­do actual nom é melhor que o de há vin­te anos.

Refo­rçá­rom-se os muros tan­gí­veis que já exis­tiam. Outros fôrom cons­truí­dos. Porém, hoje, todos eles estám con­ve­nien­te­men­te invi­si­bi­li­za­dos nas cró­ni­cas da impren­sa bur­gue­sa embria­ga­da da dou­tri­na da “gue­rra fria”. Nem umha pala­vra dos milhons de tone­la­das de cimen­to com os que Israel iso­lou a Cis­jor­dá­nia. Nem umha só linha ao que os Esta­dos Uni­dos cons­truiu no fran­co sul da sua fron­tei­ra com o Méxi­co. Nem umha só mençom ao que Marro­cos levan­tou para cer­car o herói­co povo saa­raui. Ao que Espanha se afa­na por aper­feiçoar nos seus encla­ves colo­niais do nor­te de Áfri­ca. Ao que actual­men­te se levan­ta no Rio de Janei­ro para selar a opu­lên­cia das fave­las mise­ren­tas. Zim­bab­we, Kuwait, Uzbe­kis­tán, Índia… som outros exem­plos dos muros que se fôrom edi­fi­can­do pos­te­rior­men­te à que­da do de Ber­lim, mas que sei­ca cum­pre nom denun­ciar. Como mui­to, umha mençom ao que se levan­ta a divi­dir as duas Coreias.

Mas, fren­te aos ara­mes far­pa­dos, blo­cos e torres de cimen­to, vedaçons elec­tri­fi­ca­das, minas, sen­so­res, as mais varia­das barrei­ras, que cer­cam e divi­dem povos, o capi­ta­lis­mo nas duas últi­mas déca­das, nom ces­sou em aumen­tar o muro da des­igual­da­de e a injus­tiça entre o nor­te opu­len­to e rico e um sul cada dia mais empo­bre­ci­do e saquea­do. O impe­ria­lis­mo tem ace­le­ra­do a sua estra­té­gi­ca de apro­priaçom dos recur­sos devo­ran­do povos, ani­qui­lan­do cul­tu­ras, levan­do ao pla­ne­ta ao holo­caus­to eco­ló­gi­co. Os muros da opres­som, explo­raçom, e domi­naçom patriar­cal tenhem-se apro­fun­da­do. A assi­mi­laçom espanho­la sobre a nos­sa pátria nom dei­xou de incrementar.

Hoje há mais misé­ria, fame, gue­rras, exclu­som e doe­nças no mun­do das que havia naque­la noi­te de 9 para 10 de Novem­bro de 1989. Nós nom temos, logo, nada que celebrar.

Pri­mei­ra Linha

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