“É lamen­tá­vel que nos siga­mos matan­do no meio dumha nego­ciaçom de paz”. Car­los Morais de Pri­mei­ra Linha entre­vis­ta a Ivan Mar­quez, miem­bro de las FARC-EP

Nota de Boltxe

La entre­vis­ta por su interes infor­ma­ti­vo la publi­ca­mos en su ori­gi­nal, en el idio­ma gale­go, tal y como nos la han envia­do l@s cama­ra­das de Pri­mei­ra Linha

CM- Bom dia coman­dan­te!. Vamos fazer uma entre­vis­ta para ana­li­sar e fazer um diag­nós­ti­co de como se encon­tra o pro­ces­so de nego­ciaçom entre a gue­rrilha colom­bia­na das FARC-EP e o Esta­do colombiano.

Bom dia Iván! Este ano cele­bra­des 51 ani­ver­sá­rio da fun­daçom das FARC-EP.

IM- Assim é!

CM- Algum dia dos últi­mos anos tinha­des pen­sa­do a pos­si­bi­li­da­de de que iades estar mais de dous anos e meio, aqui, em Hava­na, nego­cian­do com o governo colom­biano um pro­ces­so de paz, que todo apon­ta como o mais sério, no que mais tem­po ten­des inves­ti­do de todos os que ten­des desenvolvido.

IM- Sim. Nós quan­do sur­gi­mos, sur­gi­mos sem­pre pen­san­do na paz. Temos fei­to esfo­rços con­ti­nua­dos por che­gar a umha soluçom polí­ti­ca des­te con­fli­to, des­de o nos­so sur­gi­men­to em maio de 1964.

Temos des­en­vol­vi­do pro­ces­sos de paz des­de 1984. Acu­mu­la­mos trin­ta anos de pro­cu­ra da paz, se temos em con­ta que rea­li­za­mos os Diá­lo­gos de Cara­cas, logo diá­lo­gos em Tlax­ca­la, em San Vicen­te do Caguán, e ago­ra este esfo­rço que esta­mos rea­li­zan­do em Hava­na. Que como você di leva­mos per­to de dous anos de inter­câm­bios com o governo sobre as dife­ren­tes temá­ti­cas que con­vi­mos dis­cu­tir na agen­da de Hava­na que foi apro­va­da 26 de agos­to de 2012.

Como dizer que este pro­ces­so de paz, como você assi­na­la, tem inves­ti­do um pou­co mais de tem­po, e creio que temos logra­do plas­mar já no papel alguns acor­dos que con­si­de­ra­mos impor­tan­tes para apro­xi­mar-nos a este obje­ti­vo que seria o acor­do final.

CM- Após dous anos e meio de iní­cio do pro­ces­so de nego­ciaçom de paz qual é o bala­nço atual, quan­do se aca­va de fechar a rol­da 35 das nego­ciaçons. Que se tem atin­gi­do até o momento?

IM- Até o momen­to temos logra­do três acor­dos par­ciais. O pri­mei­ro à vol­ta de terras. Par­ciais por­que há disen­sos toda­via, guar­da­dos num refri­ge­ra­dor para reto­má-los mais adiante.

O segun­do acor­do par­cial refi­re-se ao alar­ga­men­to da demo­cra­cia, logo deno­mi­na­do par­ti­ci­paçom polí­ti­ca. Tam­bém com algumhas sal­ve­da­des pen­den­tes de abor­dar mais adian­te numha nova discusom.

E o ter­cei­ro assun­to está vin­cu­la­do à soluçom ao pro­ble­ma das dro­gas de uso ilícito.

Hoje esta­mos falan­do de víti­mas e esta­mos ava­nçan­do nes­ta temá­ti­ca após escui­tar em cin­co audiên­cias a repre­sen­tan­tes das víti­mas, que fôrom sele­cio­na­das por Naçons Uni­das, a Uni­ver­si­da­de Nacio­nal da Colôm­bia e a Con­fe­rên­cia Epis­co­pal, mar­can­do pois um fito, umha dife­re­nça com outros pro­ces­sos de paz que nom tinham aber­to a pos­si­bi­li­da­de de escui­tar na Mesa, as duas par­tes con­ten­den­tes, Esta­do e insur­gên­cia, às víti­mas des­te lon­go conflito.

Ava­nça­mos na dis­cu­som ago­ra do pon­to cin­co, o tema das víti­mas, mas tam­bém esta­mos abor­dan­do um assun­to que é real­men­te cru­zial, o fim do con­fli­to, pon­to três da agen­da. A agen­da nom se tem abor­da­do na ordem em que foi acor­da­da, a medi­da que ava­nça­mos na dis­cus­som dize­mos ago­ra vamos abor­dar este tema. Fala­mos ago­ra sobre fim do con­fli­to, e para isso temos cria­do umha comis­som téc­ni­ca com man­da­do espe­cí­fi­co, que está inte­gra­da por gene­rais em ser­viço ati­vo das forças arma­das da Colôm­bia, e inte­gran­tes do Secre­ta­ria­do e do Esta­do Maior das FARC, que tra­tam de iden­ti­fi­car e apro­xi­mar visons à vol­ta de temas fun­da­men­tais como som ces­sa­men­to bila­te­ral de fogo e o assun­to do aban­dono das armas, mais outros aspei­tos que há que ir tra­tan­do de for­ma inte­gral e simul­tá­nea. Ai vamos!

Fica pen­den­te um pon­to, o sex­to, que a refe­ren­daçom dos acor­dos, a imple­men­taçom e a verificaçom.

CM- Um dos pon­tos mais con­fli­ti­vos, as FARC leva­des mais de mês e meio com um ces­sa­men­to uni­la­te­ral do fogo e ten­des soli­ci­ta­do de manei­ra repe­ti­da ao governo colom­biano de San­tos que tenham o mes­mo ges­to, ces­sa­men­to bila­te­ral, mas o governo nega-se a dar esse passo.

IM- É lamen­tá­vel que nos siga­mos matan­do no meio dumha nego­ciaçom de paz. Des­de que che­ga­mos a Hava­na a nos­sa pri­mei­ra pro­pos­ta ao governo foi pac­tuar já um ces­sa­men­to bila­te­ral do fogo que em pri­mei­ro lugar evi­te mais víti­mas. Em segun­do lugar rodeie a mesa de con­ver­saçons de um ambien­te favo­rá­vel para poder avançar.

Governo até o momen­to tem pre­fe­ri­do opi­nar que as tré­guas bila­te­ra­is sem­pre tenhem sido apro­vei­ta­das pola gue­rrilha para afor­ta­lar-se polí­ti­ca e mili­tar­men­te, o qual nom se enten­de. Umha tré­gua o que bus­ca é huma­ni­zar um con­fli­to, gerar um ambien­te, umha atmós­fe­ra favo­rá­vel para ava­nçar na cons­truçom dos acor­dos. Mas temos esta posiçom incom­preen­sí­vel por par­te do governo! Nos qui­ge­ra­mos que estes diá­lo­gos se rea­li­zá­ram nes­te ambiente!

Peran­te a nega­ti­va per­ti­naz do governo temos resol­vi­do decla­rar de for­ma uni­la­te­ral um ces­sar-fogo que que­re­mos seja inde­fi­ni­do. Este começou a regir de 20 de dezem­bro passado.
Ces­sar-fogo uni­la­te­ral que deve­ra ter corres­pon­dên­cia por par­te do governo, que nom a temos tido, a pesar de ter sido decla­ra­do de for­ma uni­la­te­ral tem sido obje­to de hos­ti­li­da­des, de pres­sons mili­ta­res. As nos­sas tro­pas gue­rrilhei­ras tenhem sido obje­to de ope­raçons em todas as áreas do país e temos denun­cia­do com pre­cis­som que estes ope­ra­ti­vos tenhem dei­xa­do sal­dos mui lamen­tá­veis: a mor­te de mais de vin­te gue­rrilhei­ros, feri­dos, cap­tu­ra­dos … que nom se corres­pon­de pois com um ges­to mag­ná­ni­mo que nós pedi­mos, ces­sar-fogo que que­re­mos exten­der de for­ma indefinida.

O governo tem fei­to que esta ofer­ta nos­sa é umha rosa cheia de espinhas … nom enten­de­mos fran­ca­men­te esta expres­som que o governo quer espe­ci­fi­car, quan­do a nós o úni­co que nos ani­ma e impul­sa para fazer esta pro­pos­ta é a huma­ni­zaçom da gue­rra, do conflito.

CM- Que pas­sou há umhas sema­nas no Cau­ca com a mor­te de várias dúzias de sol­da­dos colom­bia­nos, que os meios de comu­ni­caçom apro­vei­tá­rom para lançar umha nova cam­panha de intoxicaçom.

IM- Umha con­se­quên­cia lógi­ca des­tas pres­sons, a tré­gua uni­la­te­ral que nos temos decla­ra­do é umha tré­gua na ofen­si­va. Nós até esse momen­to nos temos ata­ca­do nem mili­ta­res nem polí­cias, nem temos ata­ca­do a infra­es­tru­tu­ra eco­nó­mi­ca, é dizer cum­pria­mos cabal­men­te a pala­vra empenha­da, mas estas pres­sons às que alu­dia nos tenhem obri­ga­do a umha res­pos­ta lamen­tá­vel. Nós nom nos com­pra­ce­mos com a mor­te de sol­da­dos. Além por umha razom sin­ge­la: quem caem nes­tas açons som sem­pre os seto­res menos favo­re­ci­dos. Aqui nom há com­ba­ten­tes de extra­tos altos da socie­da­de. O Esta­do tem con­ce­bi­do um sis­te­ma de ser­viço mili­tar que só invo­lu­cra aos seto­res mais pobres, che­gan­do a umha situaçom inde­se­já­vel para nós que é ter que livrar umha gue­rra entre pobres. O dos escri­tó­rios que azuçam a gue­rra fam-no des­de umha posiçom mui cómo­da. Eles nom vam à gue­rra. Nós sim sen­ti­mos o que sig­ni­fi­ca o con­fron­to arma­do e qui­ge­ra­mos que esta situaçom paras­se. É um dos moti­vos polos quais nós temos pro­pos­to cessar-fogo.

CM- Na déca­da de noven­ta do sécu­lo pas­sa­do há ante­ce­den­tes de nego­ciaçom das insur­gên­cias de Sal­va­dor e Gua­te­ma­la com os seus res­pei­ti­vos gover­nos. Havia umha situaçom inter­na­cio­nal com­ple­ta­men­te dife­ren­te à atual, tinha cai­do a Uniom Sovié­ti­ca, a situaçom do mun­do esta­va em ple­na mudança …

Quais som as linhas ver­melhas que a insur­gên­cia colom­bia­na das FARC nom está dis­pos­ta a cru­zar, por­que o governo insis­te que o obje­ti­vo é que a gue­rrilha aban­do­ne, que entre­ga as armas e se incor­po­re à vida polí­ti­ca legal.

IM- Nós nom temos cru­za­do linhas ver­melhas para atin­gir a paz. Con­ce­be­mos a paz como um direi­to sín­te­se, um pro­pó­si­to supe­rior. Que­re­mos che­gar à paz, mas sobre a base de muda­nças estru­tu­rais que polo menos traiam para os colom­bia­nos jus­tiça social, demo­cra­cia ver­da­dei­ra e sobe­ra­nia. Esta­mos aber­tos a dis­cu­tir todos os temas que sejam neces­sá­rios para che­gar ao pro­pó­si­to da paz com jus­tiça social.

CM- Governo segue afir­man­do que os prin­ci­pais líde­res, os coman­dan­tes das FARC-EP terám que pagar pena de pri­som para poder incor­po­rar-se à vida polí­ti­ca legal.

IM- De vez em quan­do fai essa afir­maçom, mas o con­fli­to tem sido mais com­ple­xo. Aca­ba­mos de rece­ber na Mesa de con­ver­saçons infor­me da comis­som his­tó­ri­ca do con­fli­to e as suas víti­mas. E os 14 infor­mes dos aca­dé­mi­cos que con­for­mam esta comis­som, na sua gran­de maio­ria, apon­tam ao Esta­do como máxi­mo res­pon­sá­vel. Todos estes assun­tos há que tra­tá-los com equi­lí­brio, nom se pode pre­ten­der que um lon­go con­fli­to como o que temos tido que supor­tar tenha como máxi­mos res­pon­sá­veis à guerrilha.
A gue­rrilha sim­ples­men­te está fazen­do uso de um direi­to natu­ral, uni­ver­sal que é o da rebe­liom, o de alzar-se em armas con­tra regi­mes injus­tos e esta só defi­niçom supom que há um regi­me res­pon­sá­vel, gera­dor da vio­lên­cia. Nes­te caso na Colôm­bia, e nós que­re­mos que esta cir­cuns­tán­cia se tome em con­ta. Há umha quan­ti­da­de de ato­res, mas o que nom se pode pre­ten­der é que a máxi­ma res­pon­sa­bi­li­da­de se situe entre os com­ba­te­tes. Há uns deter­mi­na­do­res, há uns ato­res que som o Esta­do, governo, som os minis­tros, os par­ti­dos polí­ti­cos, os terra­te­nen­tes, as trans­na­cio­nais que finan­ciam a gue­rra, que finan­ciam gru­pos para­mi­li­ta­res, umha gran­de impren­sa que acuça à gue­rra, e nal­guns perío­dos his­tó­ri­cos a Igre­ja que tam­bém ins­tou ao assas­si­na­to de comu­nis­tas e liberais.

E este rátio his­tó­ri­co nom o pode­mos dei­xar de lado no momen­to de ana­li­sar o assun­to com­ple­xo das res­pon­sa­bi­li­da­des. Afor­tu­na­da­men­te ago­ra temos umhas con­clu­sons que as par­tes con­vi­mos, que ser­vi­riam como insu­mo para abor­dar estes tam cru­ziais para a paz como é o tema de víti­mas e a jus­tiça social.

CM- Depois de mais de 50 anos de con­fli­to, as FARC som fun­da­das em 1964, che­ga­mos a um pon­to em que tal como vós afir­ma­des nom há ven­ce­do­res nem ven­ci­dos. O exér­ci­to colom­biano com apoio dos EUA e do impe­ria­lis­mo, é inca­paz de derro­tar à gue­rrilha, um exér­ci­to mas­to­dón­ti­co com os mais moder­mos meios mili­ta­res, mas tam­pou­co a gue­rrilha tem logra­do até o momen­to derro­tar e tomar o poder de Bogo­tá pola vias das armas. Esta é a ver­da­dei­ra razom pola qual ten­des con­se­gui­do a gran­de vitó­ria de sen­tar governo colom­biano a nego­ciar em Havana?

IM- A ver­da­de é que se alguém resul­ta favo­re­ci­do com esta deci­som é o povo colom­biano. Nós esta­mos com este sen­ti­men­to nacio­nal que quer o fim de um lar­go con­fli­to, mas acom­panha­do de umha série de medi­das sociais e polí­ti­cas que per­mi­tam que os colom­bia­nos podam viver em dig­ni­da­de, superan­do sobre todo a situaçom de injus­tiça, de inequi­da­de que temos. Este é um país mui des­igual, que ocu­pa o ter­cei­ro lugar no mun­do em des­igual­da­de, há mui­ta pobre­za. Que­re­mos que se acor­dem polí­ti­cas que per­mi­tam sair des­ta dura situaçom. Eu podo dizer que a Colôm­bia que é um país que tem 46 milhons de habi­tan­tes, 30 deles vivem na pobre­za. É umha situaçom mui com­ple­xa, mui deli­ca­da. É neces­sá­rio refor­mu­lar a polí­ti­ca eco­nó­mi­ca e social, e a isso aspi­ra­mos na Mesa de con­ver­sas, embo­ra o governo em cer­to momen­to diga que esse tema nom está em dis­cu­som, mas tem que ser dis­cu­ti­do por­que a paz deve ser cons­trui­da sobre umhas bases sóli­das. Se nom se edi­fi­ca a paz sobre muda­nças estru­tu­rais que se requi­rem no polí­ti­co, no eco­nó­mi­co, no social e no cul­tu­ral nom esta­ria­mos fazen­do nada. 50 anos de lui­ta, 60 anos de lui­ta nom podem ter­mi­nar em que sim­ples­men­te se silen­ciam os fusis e aqui nom pas­sou nada. Tenhem que dar-se algumhas muda­nças (….) Pen­sa­mos que com a força da mobi­li­zaçom social pode­ria­mos lograr ava­nçar nes­sa direçom para que o governo mude um pou­co essa ati­tu­de excluin­te, essa ati­tu­de que se resis­te ao câm­bio. A paz tem que ver com o câm­bio social, polí­ti­co, eco­nó­mi­co e cultural.

CM- Coin­ci­din­do com o pro­ces­so de nego­ciaçons há um incre­men­to do movi­men­to de mas­sas, há umha amplís­si­ma mobi­li­zaçom de seto­res do povo colom­biano: cam­po­ne­ses, estu­dan­tes, tra­balha­do­res … Qual é o papel que o movi­men­to social, o movi­men­to popu­lar deve cum­prir en todo este processo?

IM- A nós sem­pre nos acom­panha a espe­ra­nça que para que se dem as muda­nças, para que se che­gue a um acor­do real­men­te favo­rá­vel à maio­ria da Colôm­bia, é urgen­te e neces­sá­ria a mobi­li­zaçom social para atin­gir os seus direi­tos. Damos-lhe a maior impor­tán­cia e temos a cer­te­za que se as con­ver­sas estám tra­tan­do por exem­plo assun­tos do agro há que lograr um bom acor­do que bene­fí­cie ao con­jun­to da socie­da­de. Esta­mos falan­do de cri­se na jus­tiça, e há mobi­li­zaçons como de fac­to acon­te­ce no País e mani­fes­taçons cada vez maio­res para que haja umha refor­ma estru­tu­ral da rama judi­cial. Pen­sa­mos que se podia des­ta manei­ra che­gar a uns acor­dos com o governo na Mesa de con­ver­sa à vol­ta de trans­for­maçons estru­tu­rais nes­te campo.
Se a juven­tu­de, por exem­plo os estu­dan­tes, estám deman­dan­do que nom se pri­va­ti­ce mais a edu­caçom e se mobi­li­zam, pois pen­sa­mos que isto deve ter tam­bém um impac­to no momen­to de redi­gir o docu­men­tos do acor­do de negociaçons.

CM- A incor­po­raçom de um dele­ga­do de Oba­ma, de um dele­ga­do do Governo dos EUA à Mesa de nego­ciaçons como há que inter­pre­tá-lo: como um res­pal­do dire­to dos EUA à soluçom nego­cia­da ao con­fli­to colom­biano ou por­que os Esta­dos Uni­dos nom se fiam do governo de San­tos, da sua capa­ci­da­de para poder che­gar a um acor­do sob inter­es­ses da oli­gar­quia. Melhor dito, os Esta­dos Uni­dos vam per­mi­tir que des­te pro­ces­so se sen­tem as bases para a cons­truçom de umha nova Colôm­bia sobe­ra­na, inde­pen­den­te, onde a garra de Washing­ton nom tenha tan­ta influência …

IM- Isso últi­mo seria difí­cil. Enten­de­mos que isso nom está na órbi­ta do sen­ti­men­to do governo de Washing­ton. Como se da a incor­po­raçom dos Esta­dos Uni­dos a este pro­ces­so por meio de um envia­do espe­cial, o senhor Ber­nard Aron­son, por umha soli­ci­tu­de que fige­ra o governo de pre­si­den­te San­tos. Assim o mani­fes­tou o secre­tá­rio Kerry à opi­niom públi­ca, e peran­te a acei­taçom do governo dos Esta­dos Uni­dos pois nós mani­fes­ta­mos o nos­so acor­do por­que os Esta­dos Uni­dos tenhem que ver mui­to com o que acon­te­ce na Colôm­bia, com a polí­ti­ca que traça o governo de Bogo­tá. E nes­se sen­ti­do pare­ce-nos a nós impor­tan­te ter de vez em quan­do em Hava­na ao senhor Aron­son para inter­cam­biar à vol­ta do que se está dis­cu­tin­do na Mesa de con­ver­sas. Como ele mes­mo tem mani­fes­ta­do recen­te­men­te, escui­ta e de vez em quan­do fai reco­men­daçons. É impor­tan­te, por­que os Esta­dos Uni­dos deve­riam vin­cu­lar-se, dize­mos nós, de outra for­ma a Colôm­bia. Nom só apoian­do a guerra.
Você sabe que este governo tem res­pal­da­do o Plano Colôm­bia com mais de 10 mil milhons de dóla­res, que tenhem sido uti­li­za­dos para matar colom­bia­nos. É pos­sí­vel que os Esta­dos Uni­dos tenham con­tem­pla­do a ideia de que estes recur­sos se tives­sem uti­li­za­do inclu­so em pro­gra­mas sociais, mas a ver­da­de é que estes dinhei­ros fôrom apli­ca­dos em todo o seu paco­te com­ple­to para impul­sio­nar a gue­rra. Se os Esta­dos Uni­dos ago­ra pen­sam, por qual­quer cir­cuns­tán­cia, por qual­quer aná­li­se que tenha fei­ta, pen­sam que nes­te momen­to há que pro­cu­rar umha soluçom polí­ti­ca, nós nom pode­mos opor-nos pois é o que leva­mos bus­can­do pre­ci­sa­men­te de há cin­quen­ta anos.

CM- Um dos estig­mas mais habi­tuais das últi­mas déca­das ‑e que ten­des des­men­ti­do mil vezes‑, é que a gue­rrilha é umha nar­co­gue­rrilha e se finan­cia por meio do nar­co­trá­fi­co. Isto segue sen­do umha das acu­saçons fun­da­men­tais quan­do o governo colom­biano das últi­mas déca­das som gover­nos narcoterroristas.

IM- Esse mito tem cai­do total­men­te, com estruen­do. No acor­do fala-se de umha vin­cu­laçom no cobro de impos­tos por par­te da gue­rrilha que se dá no elo mais fra­co da da cadeia que é a pro­duçom. Nós nes­te assun­to rela­cio­na­mo-lo com umha atuaçom em funçom da rebe­liom. A rebel­dia tem que finan­ciar-se! Mas as FARC nom estám invo­lu­cra­das nem em cul­ti­vos, nem em comer­cia­li­zaçom, nem no lava­do de ati­vos. Os que acon­te­ce é que se foca o fenó­meno no elo mais fra­co da cadeia para ocul­tar os ver­da­dei­ros pro­mo­to­res, pro­pul­so­res do nar­co­trá­fi­co, que som os banqueiros.

Na Mesa de con­ver­sas nós temos pedi­do que se con­cen­tre a ate­nçom do Esta­do no lava­do de ati­vos. Que olhe o que tem acon­te­ci­do nes­te cam­po! O Gabi­ne­te das Naçons Uni­das con­tra a dro­ga e o deli­to tem fei­to um impor­tan­te tra­balho nes­ta direçom que pode­ria ser­vir para guiar a açom dos gover­nos para um com­ba­te mais efi­caz do narcotráfico.

Por outra par­te há infor­maçons ou denún­cias como a fei­ta por Jes­se Ven­tu­ra, gover­na­dor do esta­do nor­te­ame­ri­cano de Mines­so­ta. O que acon­te­ce é que a mes­ma CIA se está lucran­do des­tas gran­des mas­sas de dinhei­ro pro­du­to do nar­co­trá­fi­co para finan­ciar as suas cam­panhas incu­ber­tas no mun­do, para a des­es­ta­bi­li­zaçom de gover­nos, e por isso nom se atre­ve a apre­sen­tar um plano nes­te sen­ti­do peran­te o Con­gres­so dos Esta­dos Unidos.

Di o gover­na­dor Jes­se Ven­tu­ra que se incli­nam por finan­ciar des­ta for­ma todas estas cam­panhas incu­ber­tas, mas sim umha per­se­guiçom for­te do lava­do de ati­vos. Aí é onde estám os ver­da­dei­ros pro­mo­to­res do nar­co­trá­fi­co mun­dial: ban­cos nos Esta­dos Uni­dos que lavam dinhei­ro, como tam­bém os há na Euro­pa, cons­ti­tuin­do-se em tri­bu­tan­tes mui for­tes des­te fenómeno.

CM- É pos­sí­vel abrir um novo capí­tu­lo na his­tó­ria da Colôm­bia onde se con­si­ga umha paz com jus­tiça social sem a con­vo­ca­tó­ria dumha Assem­bleia Nacio­nal Constituinte?

IM- A Assem­bleia Nacio­nal Cons­ti­tuin­te é umha pos­si­bi­li­da­de. Nom nega­mos que aspi­ra­mos como FARC que o meca­nis­mo de refe­ren­daçom dos Acor­dos de Paz de Hava­na seja a Assem­bleia Nacio­nal Cons­ti­tuin­te. Mas umha Cons­ti­tuin­te resul­ta­do de um acor­do poli­ti­co pré­vio entre todos os seto­res, que deci­da­mos o con­teú­do, é dizer a temá­ti­ca que vai tra­tar. Entre estes, des­de logo, se ain­da nom poi­de­mos supe­rar os disen­sos, espe­ra­mos que estes sejam resol­vi­dos pola mag­na Assem­bleia. Simul­ta­nea­men­te como con­teú­do deve­mos acor­dar os dife­ren­tes temas que vamos tra­tar: a refor­ma polí­ti­ca, a refor­ma judi­cial, outros aspec­tos como por exem­plo con­vir umha polí­ti­ca eco­nó­mi­ca que traia aos colom­bia­nos um melhor viver, é que a gen­te tem direi­to a umha vida dig­na. Por­que tem que ser a polí­ti­ca neo­li­be­ral, por­que tem que ser a opçom de polí­ti­cas que nom favo­re­cem os inter­es­ses da naçom, como esta de abrir total­men­te as por­tas da Colôm­bia à extraçom mine­ro-ener­gé­ti­ca que está cau­san­do um devas­ta­dor impac­to socioambiental.

Todos estes assun­tos podem-se dis­cu­tir numha Cons­ti­tuin­te, e podem fazer par­te do con­teú­do dumha Constituinte.

Há que fazer umha refor­ma do sis­te­ma elei­to­ral por exem­plo, há que pen­sar tam­bém em falar sobre o uso do solo na Colôm­bia, que está geran­do um gran­de rio. Nós esta­mos dei­xan­do de ser um país com sobe­ra­nia ali­men­tar. Era­mo-lo até há pou­co! Pro­du­zia­mos o que comia­mos, ago­ra nom.
Colôm­bia tem que impor­tar bilhons de bilhons de tone­la­das de ali­men­tos como con­se­quên­cia dos tra­ta­dos de livre comér­cio e outras polí­ti­cas bila­te­ra­is em que sem­pre está invo­lu­cra­do o governo dos Esta­dos Uni­dos. Isto só para situar alguns exem­plos à vol­ta do conteúdo.

Um aspec­to que há que con­vir é a com­po­siçom da Assem­bleia Cons­ti­tuin­te, e nós sim que­re­mos que para garan­tir a par­ti­ci­paçom de seto­res sociais, de seto­res sin­gu­lar­men­te exclui­dos, de seto­res empo­bre­ci­dos, se esta­be­leça umhas cir­cuns­criçons elei­to­rais espe­ciais para, pon­do um exem­plo, os cam­po­ne­ses podam ele­ger os seus vozei­ros no Con­gres­so, os indí­ge­nas podam fazer o mes­mo, a comu­ni­da­de negra poda fazer o mes­mo, os jovens, os tra­balha­do­res, as mulhe­res .. em fim os diver­sos seto­res que podam escolher repre­sen­tan­te nes­ta Assem­bleia onde se vai dis­cu­tir pra­ti­ca­men­te o futu­ro da naçom, o des­tino de paz des­ta naçom, as novas polí­ti­cas que ham de implementar-se.

Por outra par­te ai está um sis­te­ma elei­to­ral no que nós nom con­fia­mos, mas que se ele­ja umha par­te com esse velho sis­te­ma que segu­ra­men­te vai ser trans­for­ma­do pola Cons­ti­tuin­te. Isto para que haja umha repre­sen­taçom do país nacio­nal. Para que essa Assem­bleia Nacio­nal Cons­ti­tuin­te abar­que todos os seto­res é pre­vi­sí­vel que como deri­vaçom do acor­do a gue­rrilha deva ter umha repre­sen­taçom, uns esca­nos. É dizer, abri­riam-se umhas pos­si­bi­li­da­des mui gran­des para tra­balhar ali com umhas novas for­mas que rijam os colom­bia­nos nos anos futuros.

Isto como um pon­to de par­ti­da, nom como um pon­to de che­ga­da. Assim tam­bém deve­mos enten­der o acor­do de paz, como um pon­to de par­ti­da e um pon­to de che­ga­da, deve­mos, neces­si­ta­mos gerar con­diçons para ava­nçar face outros obje­ti­vos de socie­da­de que está recla­man­do a popu­laçom colom­bia­na, e que tam­bém recla­ma o mundo.

Seriam pois os aspe­tos para dis­cu­tir, o mes­mo que a duraçom da Cons­ti­tuin­te. Isto tem que sub­me­ter-se a umha dis­cus­som entre todos os ato­res polí­ti­cos e sociais da Colôm­bia para esta­be­le­cer se o perío­do de duraçom vai mais de seis meses ou mais, etc, e a Cons­ti­tuin­te deve con­cluir com novas eleiçons.

CM- Já que men­cio­nas o fator tem­po, umha das pres­sons que está fazen­do de há tem­po o governo colom­biano é que a nego­ciaçom de paz tem que ter umha data final, fala de 31 de dezem­bro do ano em curso.

Pri­mei­ro eva­luar as dis­cu­sons e cons­truir os acor­dos. Nom é um assun­to de sub­je­ti­vis­mos. Há que che­gar pri­mei­ro aos acor­dos. Os temas que temos para dis­cu­tir som bas­tan­tes com­ple­xos e cru­ziais para a paz, o qual requi­re de tem­po. Nós sim qui­ge­ra­mos ir mui­to mais rápi­do, qui­ge­ra­mos um pro­ces­so mais diná­mi­co em direçom ao acor­do final, mas sem­pre encon­tra­mos obs­truçons que nal­guns casos con­si­de­ra­mos arti­fi­ciais, inclu­si­ve pola con­tra­par­te. O tema de jus­tiça nom é um tema fácil, isso há que dis­cu­tí-lo com cal­ma, e isso é um bom assun­to para dis­cus­som com o governo e pen­sa­mos que há mui­tas pos­si­bi­li­da­des para atin­gir­mos um enten­di­men­to, um bom acordo.

A soluçom nom pode ser que os gue­rrilhei­ros ter­mi­nem trás as reixas por fazer uso de um direi­to uni­ver­sal. Os mes­mos repre­sen­tan­tes das víti­mas dige­rom que nós nom vinhe­mos aqui exi­gir a lei do Taliom, nós nom vinhe­mos acá carre­ga­dos de ódio, com sede de vin­ga­nça, para falar do Esta­do e da gue­rrilha. Por­que as víti­mas nom vinhé­rom a denun­ciar o que fijo a gue­rrilha, vinhé­rom em repre­sen­taçom das víti­mas do con­fli­to, nom de umha das par­tes. Ai escui­ta­rom-se denún­cias estremecedoras.
Nós dige­mos que as prin­ci­pais viti­mi­zaçons estám liga­das ao Esta­do. Segun­do Naçons Uni­das mais de 80% estám liga­das ao Esta­do e aos seus para­mi­li­ta­res. É o Esta­do o prin­ci­pal viti­má­rio des­ta lon­ga con­fron­taçom. É neces­sá­rio par­tir des­tes fac­tos cer­tos para bus­car as soluçons, as que melhor se aco­mo­dem, em pri­mei­ro lugar às víti­mas, tam­bém as pro­du­zi­das nas mes­mas par­tes con­ten­den­tes, e do res­pal­do da opi­niom da cidadania.

CM- Sema­na pas­sa­da, mês de abril foi um mês de ani­ver­sá­rio de vitó­rias his­tó­ri­cas comu­nis­tas. 70 ani­ver­sá­rio da derro­ta do nazi­fas­cis­mo por par­te do Exér­ci­to Sovié­ti­co toman­do Ber­lim 30 de abril de 1945, e tam­bém a derro­ta do impe­ria­lis­mo nor­te­ame­ri­cano com a toma­da de Sai­gom polas orga­ni­zaçons parió­ti­cas e revo­lu­cio­ná­rias. As FARC-EP seguem defi­nin­do-se como umha força poli­ti­co-mili­tar comu­nis­ta. Qual é a vigên­cia e atua­li­da­de do ideá­rio de Marx e de Leni­ne em pleno sécu­lo XXI?

IM- Em pri­mei­ro lugar nós que­re­mos somar-nos a esse sen­ti­men­to de ale­gria que embar­ga o mun­do por estas impor­tan­tes vitó­rias sobre o fas­cis­mo e tam­bém o triun­fo viet­na­mi­ta sobre as forças inva­so­ras. Isto é mui impor­tan­te para nós, soma­mo-nos a esse rego­ci­jo mundial!

Este mun­do há que mudá-lo! O capi­ta­lis­mo é um capi­ta­lis­mo em cri­se que está dizen­do que há que olhar Marx, que olhar Leni­ne, que há que pro­cu­rar umha alter­na­ti­va dis­tin­ta ao mun­do. Além dis­to temos que pre­ser­var o pla­ne­ta pois o capi­ta­lis­mo está des­truin­do o pla­ne­ta. E isso é fun­da­men­tal, nós nom pode­mos des­truir a nos­sa pró­pria casa, nom pode­mos per­der o sen­ti­men­to de huma­ni­da­de, os laços de fra­ter­ni­da­de, de soli­da­rie­da­de entre os seres huma­nos. Isto per­deu-se em bene­fí­cio de um sele­to gru­po de pes­soas e de gover­nos, pro­vo­can­do fame no mun­do, deso­laçom, saqueio.
Isso deve mudar, estas som as ban­dei­ras do comu­nis­mo. O comu­nis­mo está vivo.
Media­ti­ca­men­te “derro­ta­rom” o comu­nis­mo com a que­da do muro de Ber­lim e todo o suce­di­do no cam­po socia­lis­ta, mas ago­ra todo o mun­do está olhan­do face umha socie­da­de mui­to mais jus­ta. E umha socie­da­de mais jus­ta é o comu­nis­mo. E há mui­tas manei­ra de lográ-lo, sobre todo ago­ra com o des­en­vol­vi­men­to teno­ló­gi­co, com uns tra­balha­do­res que mane­jam tam­bém estes assun­tos da teno­lo­gia se poi­de­ra pen­sar na cons­truçom de um mun­do melhor e que real­men­te viva­mos como umha comu­ni­da­de em irman­da­de, onde haja jus­tiça, onde nom se dem mais fenó­me­nos tris­tes como o da fame. Pode­mos cons­truir umha socie­da­de mais jus­ta e esta nom se logra por fora des­tes sentimentos.

CM- Já para fina­li­zar Coman­dan­te, nes­te ano tam­bém cele­bra­mos no nos­so país, na Gali­za, 40 ani­ver­sá­rio da mor­te em com­ba­te de Mon­cho Reboi­ras, gue­rrilhei­ro comu­nis­ta e inde­pen­den­tis­ta. Que men­sa­gem lhe que­res enviar ao povo gale­go em lui­ta pola inde­pen­dên­cia e o socialismo.

IM- Sem­pre é jus­to, sem­pre é neces­sá­rio lui­tar polo ideal da inde­pen­dên­cia. Há que seguir, há que per­sis­tir, por­que a inde­pen­dên­cia é como o ar que res­pi­ra­mos. O nos­so con­vi­te acá é per­sis­tir nes­ta lui­ta por­que é umha lui­ta justa.

CM- Mui­to obri­ga­do Comandante!

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