Uma gre­ve que foi muralha- Bruno Carvalho

Foi a quar­ta gre­ve geral em que par­ti­ci­pei. De todas elas, esta foi, sem dúvi­da, a que teve mais ade­são. Mas tam­bém foi a que teve mais vio­lên­cia. Peran­te a res­pos­ta mas­si­va dos tra­balha­do­res, a bur­gue­sia usou o Esta­do para inti­mi­dar e repri­mir. Usou os jor­nais, rádios e tele­vi­sões para difa­mar a gre­ve geral. No gra­ve con­tex­to em que vive­mos, o com­ba­te que, ontem, se tra­vou deve ser vis­to como uma faís­ca que incendeia.

Não se pode dizer, con­tu­do, que esta res­pos­ta foi à altu­ra da ofen­si­va capi­ta­lis­ta. Foi à medi­da das pos­si­bi­li­da­des e não das capa­ci­da­des da clas­se tra­balha­do­ra. Isto é o iní­cio e não o fim. O capi­tal abriu uma nova fase na luta de clas­ses e cabe-nos ganhar, pas­so a pas­so, a força neces­sá­ria para derro­tar a vaga neo­li­be­ral e des­mas­ca­rar a social-demo­cra­cia. Daí que quem pen­sar que inva­dir as esca­da­rias ou a pró­pria Assem­bleia da Repú­bli­ca é a solução não per­ce­be nada de tác­ti­ca ou de estra­té­gia. Pior: não com­preen­dem que não é ali que resi­de o poder.

Des­viar a ate­nção do essen­cial e inci­dir sobre o asses­só­rio é gra­ve. Em pri­mei­ro lugar por­que a res­pos­ta gre­vis­ta e a repres­são poli­cial foram des­va­lo­ri­za­das do pon­to de vis­ta mediá­ti­co. Em segun­do lugar por­que a ver­da­dei­ra con­fron­tação de clas­ses se dá onde se dá a explo­ração. Em ter­cei­ro lugar por­que embo­ra a toma­da do poder seja uma ques­tão sem­pre actual ela não está, para já, ao nos­so alcan­ce. Ontem, o que se viu menos nas tele­vi­sões foi a com­ba­ti­vi­da­de dos tra­balha­do­res orga­ni­za­dos à por­ta das suas empre­sas. A cora­gem de quem enfren­ta o patrão, com todos os ris­cos que isso com­por­ta, ficou em segun­do plano.

Hou­ve quem qua­se fos­se atro­pe­la­do nos Oli­vais por um camião do lixo con­du­zi­do por um fura-gre­ve. Em Paço de Arcos, a polí­cia impe­diu a inter­ve­nção dos pique­tes com o recur­so a armas de fogo. Sete carrinhas da polí­cia de cho­que foram mobi­li­za­das para a Mus­guei­ra onde cer­ca de uma cen­te­na fazia resis­tên­cia no chão em fren­te à Carris. Tam­bém ali esta­va o depu­tado comu­nis­ta Miguel Tia­go e tam­bém ele foi arran­ca­do à muralha huma­na pela força. Uma reali­da­de que nega as con­sig­nas de quem, ontem, depois de ten­tar inva­dir as esca­da­rias do par­la­men­to gri­ta­va con­tra todos os políticos.

De nor­te a sul do país, hou­ve uma imen­sa muralha huma­na que urge aumen­tar e refo­rçar. Os pró­xi­mos meses serão deci­si­vos e há que des­en­vol­ver acções de luta mais e menos gerais. Temos um caminho a per­co­rrer e obs­tácu­los a ultra­pas­sar. Não inter­es­sa ten­tar che­gar sós ao des­tino quan­do só o pode­mos alca­nçar jun­tos. Há que inten­si­fi­car a luta para que um dia esta muralha se trans­for­me em rio e pos­sa tomar o céu de assalto.

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