Sempre é boa notícia ver as pessoas saírem à rua em defesa do nosso direito de autodeterminaçom, se bem a presença de um grupo reduzido na manifestaçom deste domingo dá para pensar sobre a falta de capacidade aglutinadora da nossa esquerda soberanista neste momento histórico. Alguém duvida que somos mais de 200 as galegas e galegos que apostamos na nossa autodeterminaçom colectiva?
Perante a falta de umha iniciativa abrangente que terá que chegar bem além das siglas actualmente envolvidas, nestas horas que rodeiam a contestaçom à Constituiçom espanhola acolho-me às posiçons publicamente expressas polos inimigos declarados da galeguidade, para assim manter a minha convicçom de que, quer queiram, quer nom, somos umha naçom.
Referirei, em primeiro lugar, o caso do máximo representante da autonomia galega, Alberto Núñez Feijó, que aproveitou nada menos que umha viagem ao grande Brasil, irmao de língua. Dá vergonha, a quem se sente galego e nom precisa de mais apelido que o de europeu, ver o suposto representante da Galiza arrastar na lama desse jeito a nossa dignidade colectiva. Reclamando o seu “orgulho de espanhol” e manifestando nom compreender a Galiza sem Espanha, o complexado líder do PP na Galiza (que nom PP galego) deu novas mostras da sua lamentável indigência pessoal e política.
O segundo exemplo que queria referir é o do beatíssimo Francisco Vasques Vasques, que actualmente exerce de principal diplomata do Governo de Espanha no Vaticano. Vasques reconhece numha entrevista que as suas posiçons em matéria de língua som “similares às do PP”, reclama um novo decreto do ensino que enterre de vez qualquer direito efectivo para a nossa comunidade lingüística e insiste em oficializar o barbarismo com que a administraçom espanhola deturpou o nome da Corunha. Tam antiabortista como militante antigalego, atribui “fanatismo” e a quem defende o idioma milenário deste povo, enquanto se identifica abertamente com os ultras de ‘Galicia Bilingüe’. Considera “totalitário” reclamar para a Galiza a mesma dignidade lingüística que qualquer idioma estatal, como o espanhol, já desfruta.
Ambos exemplos, o do líder do PP na Galiza e do rançoso socialcatólico retirado nos exercícios espirituais romanos, som galegos de nascença e espanhóis de vocaçom. Ambos demonstram com a sua atitude de militante ódio polo país que lhes deu a vida nom só a indignidade da renúncia à identidade, mas também a persistência dessa identidade entre nós, nesta pátria ainda chamada Galiza.
Nengum presidente de comunidade autónoma espanhola necessita exaltar a espanholidade da sua regiom nos países que visita. Ao contrário, os cargos públicos de Madrid ou de Múrcia, por exemplo, limitam-se no tema nacional a protestar pola própria existência de nacionalismos periféricos que questionam a ideia de Espanha. Nom precisam de autoafirmar-se, pois é clara a sua identificaçom com a condiçom nacional consagrada pola Constituiçom de 1978, que cada 6 de Dezembro todas as instituiçons espanholas celebram.
Entretanto, os políticos de obediência espanhola que mandam em comunidades como a galega, a basca e a catalá precisam de andar sempre a vender-nos a sua ganga constitucional, ainda nom suficientemente assimilada pola “maioria silenciosa” dos nossos povos, muito menos polas barulhentas minorias independentistas.
É bom saber que a falta da acçom conjunta do nosso soberanismo é às vezes suprida polos nossos inimigos, que nos lembram que Galiza ainda nom é Espanha.