Manuel Fra­ga reti­ra­do da polí­ti­ca: repas­so bio­grá­fi­co de um ex-impe­ra­dor – Dia­rio Liberdade

Diá­rio Liber­da­de – Do Diá­rio Liber­da­de agra­de­ce­mos a famí­lia e a equi­pe médi­ca os seus esfo­rços por liber­tar-nos des­sa pes­sa­da car­ga: aban­do­na devi­do às suas petiçons. Fazia 60 anos que o de Vilal­ba vivia da polí­ti­ca. Tem ago­ra 89.


Manuel Fra­ga Iri­bar­ne, o úni­co polí­ti­co que ain­da esta­va em ati­vo ten­do ocu­pa­do car­gos duran­te a dita­du­ra, a “transiçom” e o perío­do da “demo­cra­cia” repre­sen­ta­ti­va, dei­xa o mun­do. O mun­do polí­ti­co, que nom o mun­do terreno, enten­de-se: con­for­me é recolhi­do na sabe­do­ria popu­lar, o famo­so banho de Palo­ma­res pode­ria ter con­ver­ti­do o Iri­bar­ne em qual­quer ser imor­tal. Assim, a ana­lo­gia à gale­ga do «Espa­ño­les, Fran­co ha muer­to» (ou seja, o «Galeg@s, Fra­ga morreu!») demo­ra­rá a se pro­nun­ciar no nos­sa tele­vi­som públi­ca de qua­li­da­de e independente.

Fra­ga nom par­ti­ci­pa­rá nas eleiçons espanho­las de 20N, dei­xan­do assim de optar ao posto de sena­dor que ocu­pa­va des­de que per­de­ra as eleiçons à Jun­ta da Gali­za em 2005. A lesom sofri­da pelo polí­ti­co devi­do a umha que­da na sua casa de Madrid fixo com que, des­de abril, o sena­dor acom­panhe a polí­ti­ca des­de a sua viven­da. Nom ocu­pa­rá o seu asen­to de sena­dor em nen­gumha das ses­sons até o final da legis­la­tu­ra. O Diá­rio Liber­da­de nom con­se­guiu infor­maçons a res­pei­to de se pen­sa renun­ciar, por­tan­to, à sua retri­buçom eco­nó­mi­ca, paga­da por tod@s @s «espanhóis» e «espanho­las».

Porém, con­for­me infor­ma a impren­sa comer­cial, Fra­ga, num exer­cí­cio de altís­si­ma res­po­sa­bi­li­da­de, nom que­ria dei­xar a polí­ti­ca, e o fai ape­nas polas pres­sons da sua famí­lia e a equi­pe médi­ca que o assis­te (mais umha vez: obrigad@s!). Dom Manuel asse­gu­ra­va, após a inter­ve­nçom que o dei­xou numha cadei­ra de rodas em abril, que se via «com força» e com capa­ci­da­des men­tais para con­ti­nuar sen­do sena­dor. Fai pou­cos meses, na entre­ga do pré­mio «Gale­go do Ano» (com lice­nça, mais umha vez do tam­bém «gale­go» Fran­cis­co Fran­co), Fra­ga apre­sen­tou-se com um «Bue­nas noches, soy el Minis­tro de Infor­ma­ción y Propaganda».

Seja como for, fica gra­va­da esta data em letras de ouro na His­tó­ria Uni­ver­sal, e som de fato vários e várias as autar­cas que que­rem ren­dir cul­to a este semi-deus polí­ti­co à sua vol­ta à Gali­za (que nom se pro­du­zi­rá no cur­to pra­zo, devi­do ao seu esta­do de saúde).

Tam­bém nós nom pode­mos dei­xar de lem­brar os momen­tos mais impor­tan­tes da bio­gra­fia des­te (pre)histórico líder da ultra­di­rei­ta espanho­la, como os suces­sos de Mon­te­ju­rra, os obrei­ros mor­tos em Gas­teiz enquan­to Fra­ga era Minis­tro da Gover­naçom, a assi­na­tu­ra do nos­so home­na­gea­do na sen­te­nça de mor­te de Julián Gri­mau, ou os insul­tos e fra­ses fora de lugar da sua últi­ma épo­ca como pre­si­den­te da Junta.

Vida e obra de Manuel Fra­ga Iribarne

Con­for­me pro­vas do carbono14, Manuel Fra­ga teria naci­do na vila gale­ga de Vilal­ba em 1922 (da nos­sa Era). Des­de novo tivo cla­ro que que­ria dedi­car-se à polí­ti­ca: dizem que o deci­diu com tre­ze anos, pro­va­vel­men­te influen­cia­do polo seu pai, pre­si­den­te da Cáma­ra Muni­ci­pal de Vilal­ba duran­te a dita­du­ra de Pri­mo de Rivera.

Fra­ga estu­dou Polí­ti­ca, Direi­to e Eco­no­mia; pare­ce que com bas­tan­te bom resul­ta­do em todos os casos, e em 1951 pas­sou a ocu­par car­gos polí­ti­cos na dita­du­ra fran­quis­ta. Nom os aban­do­na­ria até a que­da do regime.

Como Minis­tro de Infor­maçom e Turis­mo da dita­du­ra nacio­nal-cato­li­ca de Fran­cis­co Fran­co (1962−1969 da nos­sa Era) tem várias jóias que pôr de rele­vo: a mor­te do pre­so polí­ti­co Julián Gri­mau (nun­ca pediu per­dom) ou a cha­ma­da tele­fó­ni­ca ao pai de um estu­dan­te assas­si­na­do polo regi­me, na que o ameaçou com deter a sua filha se con­ti­nua­va pro­tes­tan­do. Tam­bém des­ta épo­ca é o seu ale­ga­do banho em Palo­ma­res, para demons­trar que a que­da de umha bom­ba ató­mi­ca ame­ri­ca­na naque­las águas nom supunha um peri­go. Hoje con­ti­nuam a ser regis­tra­dos níveis de radio­ati­vi­da­de anor­mais naque­la vila anda­lu­za. As e os par­ti­dá­rios des­te ultra­di­rei­tis­ta argu­men­tam que era um dos mem­bros do governo mais favo­rá­veis à aber­tu­ra da desuma­na dita­du­ra fran­quis­ta. Con­ti­nuan­do esta «argu­men­taçom», Fran­co era «aber­tu­ris­ta» por­que nom dei­xou tan­tos mor­tos nem tan­ta repres­som como Hitler.

Duran­te a sua épo­ca de embai­xa­dor fran­quis­ta no Rei­no Uni­do (1969−1975), Fra­ga começou a arti­cu­lar o meca­nis­mo de sobre­vi­vên­cia do fran­quis­mo, mate­ria­li­za­do na cha­ma­da «transiçom», vários anos depois, atra­vés de um gru­po polí­ti­co que seria a semen­te do apa­relho de per­pe­tuaçom e graças ao qual os e as res­pon­sá­veis de 40 anos de dita­du­ra nun­ca pagá­rom os seus crimens.

Como Vice­pre­si­den­te e Minis­tro da Gover­naçom (1975−1976), Fra­ga assu­me dous papeis dig­nos de mençom: de um lado, o assas­si­na­to pola Polí­cia Arma­da (sob res­po­sa­bi­da­de do «nos­so» homem) de cin­co obrei­ros em Gas­teiz (País Bas­co), enquan­to Dom Manuel esta­va na Ale­manha. Aliás, mui­to habi­tual no ex-minis­tro fugir em situaçons des­ta clas­se (lem­bre-se o Pres­ti­ge, por exem­plo). O Par­la­men­to Bas­co con­si­de­rou pos­te­rior­men­te como res­pon­sá­veis des­tas cin­co mor­tes e mais 150 pes­soas feri­das de bala aos «res­pon­sá­veis dos minis­té­rios atuan­tes». Tam­bém nom se dei­tou nun­ca toda a luz sobre o seu envol­vi­men­to nos suces­sos de Mon­te­ju­rra, com duas pes­soas mor­tas e várias feri­das por assas­si­nos ultra­di­rei­tis­tas che­ga­dos do mun­do intei­ro. Um deles, Gene­ral Almi­rón (mem­bro das tri­ple A argen­ti­nas) foi, mais tar­de, guar­da-cos­tas pes­soal de Fra­ga e che­fe de segu­ra­nça da pro-fran­quis­ta Alia­nça Popu­lar (fun­da­da, como nom, por Dom Manuel).

Com a transiçom para o atual regi­me pseu­do­de­mo­crá­ti­co e a sobre­vi­vên­cia das estru­tu­ras e car­gos polí­ti­cios fran­quis­tas no esque­ma do Esta­do espanhol, che­gou a que tal­vez tenha sido a maior frus­traçom polí­ti­ca de Manuel Fra­ga Iri­bar­ne. Ele, ambi­cio­so pola toma­da do poder, foi supe­ra­do por Adol­fo Suá­rez (UCD) na con­se­cuçom des­se obje­ti­vo. Fun­da, em 1976, Alia­nça Popu­lar, futu­ro par­ti­do popu­lar, orga­ni­zaçom da direi­ta her­dei­ra do fran­quis­mo «socio­ló­gi­co», como ela pró­pria se defi­nia. Sofreu um terrí­vel fra­cas­so nas eleiçons de 1977. Par­ti­ci­pou na redaçom da espanho­lis­ta e reaci­ná­ria Cons­ti­tuçom Espanho­la, impos­ta depois a todos os povos sob domi­naçom de Madrid.

No Gol­pe de Esta­do fas­cis­ta de 23F de 1981, as ver­sons nom mani­pu­la­das da His­tó­ria apon­tam a um papel des­ta­ca­do de Fra­ga, que apa­re­ce­ria como can­di­da­to para um governo de «uni­da­de nacio­nal» caso o gol­pe sais­se adian­te. O sonho do exmi­nis­tro de ocu­par altos car­gos de poder no novo regi­me esta­va mais per­to do que nun­ca. Porém, con­for­me a His­tó­ria ofi­cial, Fra­ga teria enfren­ta­do os gol­pis­tas no con­gres­so. O que nom dizem é que isso só acon­te­ceu mui­tas horas após o começo da açom fas­cis­ta, quan­do ela esta­va cla­ra­men­te fracassada.

Após vários anos como che­fe da opo­siçom no Con­gres­so Espanhol e Euro­dipu­tado, aca­ba­ria con­se­guin­do a pre­si­dên­cia da Jun­ta da Gali­za em 1989. Des­de ela, dis­fa­rçan­do o seu pro­gra­ma de um gale­guis­mo fol­clo­ris­ta, refo­rçou as his­tó­ri­cas estru­tu­ras caci­quis na Gali­za e entre­gou o país à espe­cu­laçom e o inter­es­se empre­sa­rial, com gra­ves con­se­quên­cias meio-ambien­tais e sociais. Duran­te o seu governo pro­du­ziu-se umha pro­gres­si­va per­da do uso da lín­gua gale­go-por­tu­gue­sa, ace­le­ra­do nos últi­mos anos e inten­sa­men­te impul­sa­do polo atual governo do espanho­lis­ta Fei­jó. O afun­di­men­to do Pres­ti­ge e a inaçom do governo auto­nó­mi­co, entre outros fatos, aca­bá­rom con­du­zin­do à que­da de Fra­ga em 2005.

Des­de entom, é sena­dor por desig­naçom do par­la­men­to gale­go. Na últi­ma oca­siom, em 2008, o BNG (!) e o PSdeG reno­vá­rom com os seus votos o posto de Fra­ga. Graças ao apoio do par­ti­do espanhol e da «esquer­da» auto­no­mis­ta, o PP nom tivo nem que votar: che­gou abster-se.

Des­de entom, pro­ta­go­ni­zou tra­gi-cómi­cas fra­ses, enco­ra­jan­do, por exem­plo, a «col­gar a los nacio­na­lis­tas», indi­can­do a umha jor­na­lis­ta que nom batia nela «por­que era umha mulher», ou jus­ti­fi­can­do o gol­pe mili­tar de 1936 e a dita­du­ra franquista.

Per­de­mos (poli­ti­ca­men­te falan­do) umha figu­ra de enor­me impor­tân­cia para o nos­so país. Mais umha vez, obrigad@s à famí­lia e à equi­pe médica.

Foto: Fra­ga recentemente.


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