Txi­llar­de­gi: »Se eu fos­se gale­go, seria lusis­ta. Essa seria tam­bém a opçom de Joan Coro­mi­nes” – Dia­rio Liberdade

Sába­do, 09 Julho 2011 02:00

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Umha vida mar­ca­da polo com­pro­mis­so inte­lec­tual com a his­tó­ria. Indu­bi­ta­vel­men­te, o inte­le­tual vas­co mais impor­tan­te da segun­da meta­de do sécu­lo XX.

Engenhei­ro, lin­güis­ta, autor do pri­mei­ro roman­ce em Eus­ke­ra, a melhor home­na­gem que se lhe pode ofe­re­cer é o reconhe­ci­men­to da socie­da­de ao seu con­tri­bu­to graças ao qual a lín­gua bas­ca está na rua, gozan­do de gran­de vitalidade.

Vamos ter a oca­siom de um encon­tro com um homem de gran­de trans­cen­dên­cia, tes­te­munha ati­va na evo­luçom de gran­de par­te dos acon­te­ci­men­tos que nos dias de hoje con­for­mam a atua­li­da­de de Euskadi.

É de gran­de impor­tán­cia que ape­nas na sua relaçom com inte­le­tuais bas­cos que nom estám, ou expon­do o que sig­ni­fi­cá­rom para a cul­tu­ra e a lite­ra­tu­ra os seus homó­lo­gos nou­tros pai­ses, poda­mos situá-lo no nível que lhe corres­pon­de. Jose Luis Alva­rez Enpa­ran­tza é par­te fun­da­men­tal da muda­nça de rumo posi­ti­vo na his­tó­ria social do Euscaro.

Umha lín­gua e umha lite­ra­tu­ra his­to­ri­ca­men­te assen­ta­das em limi­tes crí­ti­cos para a sua sobre­vi­vên­cia. Pode­ría­mos dizer que Txi­llar­de­gi atuou con­tri­buin­do nota­vel­men­te para dotá-la de gran­de capa­ci­da­de de resis­tên­cia. Graças a isso, hoje pos­suí­mos umha lin­gua viva e umha lite­ra­tu­ra con­tem­po­rá­nea e com futu­ro em Euscaro.

Até aqui acha­mos esta, umha opor­tu­ni­da­de extra­or­di­ná­ria, mas nom isen­ta de con­tro­vér­sia polo seu per­fil peran­te a socie­da­de. Isto nos man­tém em vilo para rea­li­zar­mos a nos­sa tare­fa, se pos­sí­vel, com o máxi­mo res­pei­to e res­pon­sa­bi­li­da­de. Sabe­mos que a polé­mi­ca está pre­sen­te des­de o momen­to que isto for publi­ca­do. Às vezes, quer polo des­conhe­ci­men­to de alguns, quer polo peri­go que supom sem­pre a igno­rán­cia dal­guns outros. Mas, ain­da assim, quer tam­bém da pers­pe­ti­va crí­ti­ca, de quem, ain­da que lici­ta­men­te enquan­to exer­cem umha aná­li­se ses­ga­da basea­da en cri­té­rios que nom tenhem en con­ta o con­tex­to his­tó­ri­co, em lugar de opta­rem pola sín­te­se que infe­liz­men­te cos­tu­ma rea­li­zar-se com jus­tiça enquan­to a vida dumha pes­soa se escre­ve nos livros de his­tó­ria, ou com o pas­sar do tem­po a crí­ti­ca fai-se mor­na, per­mi­tin­do que a pes­soa-per­so­na­gem fina­li­ze situa­do no lugar que lhe corresponde.

Nós nom acha­mos pre­ci­so e de jus­tiça aguar­dar, é assim que, daqui, ren­de­mos home­na­gem a este gran­de inte­lec­tual, José Luis Álva­rez Enpa­ran­tza. Reuni­mo-nos com Txi­llar­de­gi num café no cen­tro de Donos­tia, per­to de onde mora Jose Luis. Apro­xi­ma-se com rit­mo sos­se­ga­do, ele­gan­te­men­te e com txa­pe­la, dis­pos­to para as incle­mên­cias do inverno. Pas­sa­rom já 81 anos dumha vida inten­sa em que esta mes­ma cida­de o viu nas­cer. Ape­nas uns minu­tos para nos sur­pren­der­mo gra­ta­men­te com o seu vigor intelectual.

Após aco­mo­dar­mo-nos, de acor­do com ele, começa­mos a gra­var a conversa…

TX: Podes gra­vá-lo todo. Ago­ra vós vere­des se é pos­sí­vel ou nom publi­car, já rela­tei a minha vida tan­tas vezes…

Você conhe­ce já TINTIMÁM e tivo a pos­si­bi­li­da­de de com­pro­var a sua publi­caçom em gale­go-por­tu­guês. Tal­vez isso lhe resul­te estranho, mes­mo se lhe digo que o fac­to de a publi­car­mos em gale­go-por­tu­guês sus­ci­ta mui­tas crí­ti­cas por par­te de alguns.

TX: Lem­bro que o pró­prio Cas­te­lao dizia que havia duas Gali­zas, a que ficou e a que fugiu face Por­tu­gal, «lá ficou meta­de da nos­sa terra, de nos­so espí­ri­to, da nos­sa lin­gua, da nos­sa cul­tu­ra, da noss­sa vida, do nos­so ser nacional».

Eu se fos­se gale­go seria lusis­ta. Essa seria tam­bém a opçom de Coro­mi­nes o gran­de lin­guis­ta cata­lám. Coro­mi­nas dizia que na penín­su­la exis­tiam qua­tro idio­mas: Vas­co, Cata­lám, Cas­te­lám e Galai­co-por­tu­guês. O Blo­que Nacio­na­lis­ta Gale­go tivo umha mui­to boa opor­tu­ni­da­de no governo e ago­ra, nom com­preen­do o BNG em sua pos­tu­ra com res­pei­to ao idio­ma. Deve­riam man­ter umha posiçom favo­rá­vel ao reintegracionismo.

No BNG sei da exis­tên­cia de posi­cio­na­men­tos mais radi­cais, mes­mo mar­xis­tas-leni­nis­tas, mas com qual­quer umha ques­tom e com o idio­ma demons­tram com cla­re­za o seu regio­na­lis­mo. Dita posiçom nom é favo­rá­vel para ninguém.

Temos mui­to em comúm Gali­za e Eus­kal Herria, duas terras belís­si­mas e onde é pos­sí­vel viver bem.

TX: Cá temos 800 pre­sos, exila­dos, a situaçom aqui nom é nada agradável.

A sua relaçom com a Gali­za começou na juven­tu­de quan­do escre­veu a sua pri­mei­ra nove­la, Letu­ria­ren egun­ka­ri ezku­tua (O diá­rio ocul­to de Letu­ria) em 1956.

TX: Sim. Esti­vem em Ferrol, fazen­do o ser­viço mili­tar e foi lá onde escre­vim o meu pri­mei­ro roman­ce. Foi daque­la que me apai­xo­nei pola Gali­za que é a minha segun­da pátria, como já dixem em mui­tas oca­sions. Ferrol, Pon­te­deu­me, Beta­nços, todo aqui­lo é mui­to belo. Ain­da recor­do sen­do alfe­res, vinham-me pedir o vis­to-bom para o almo­rço, mui­tos deles ao fala­rem-me acha­vam esta­rem falan­do em espanhol, mas fala­vam por­tu­guês sem pos­sui­rem cons­ciên­cia dis­so. Lem­bro pala­vras como «aco­lá».

Tem qual­quer cou­sa a ver a via­gem inte­rior de Letu­ria, com o que escre­ve­ra na Galiza?

TX: A sau­da­de, nom? Se nom hou­ver sau­da­de há que ir na sua pro­cu­ra aon­de for. (risos). A Gali­za toda

é mara­vilho­sa. Em Vigo recor­do até o Hotel, em fren­te, Can­gas do Morraço. Cos­tu­ma­va ir mui­to a Padrom, à mora­da da Rosa­lia… recor­daçons mui­to emo­ti­vas para mim. Des­de aque­la esti­vem lá várias vezes e com­prei livros, lim e tenho mui­tos livros. Rosa­lia de Cas­tro, é umha gran­de refe­rên­cia para mim. De fac­to, escre­vim um ensaio sobre ela no meu últi­mo livro, Horre­taz (2007), (acer­ca dis­so). A Rosa­lia de Cas­tro se deve o «Res­sur­gi­men­to» das letras galegas.

(Ago­ra tem mais um livro em gale­go para a sua biblio­te­ca, fige­mos-lhe entre­ga dum exem­plar de «Moxe­nas a memó­ria do son: vida e obra dun gai­tei­ro», de Miguel Pérez Lorenzo).

Come­ce­mos por entrar na temá­ti­ca do puris­mo lingüístico…

TX: O puris­mo lin­güis­ti­co tam­bém nom é reco­men­dá­vel. Aquí, por exem­plo, temos Lizar­di (poe­ta bas­co dos anos 30), escre­via em Eus­ca­ro com­ple­ta­men­te puri­fi­ca­do, e de tam puro, esta­va mui­to afas­ta­do do Eus­ca­ro popu­lar e às vezes nem se com­preen­dia. Um outro tipo de puris­mo, o de Ori­xe (Nico­lás Ormaetxea, escri­tor bas­co dos anos 30 – 50), popu­lis­ta, mas mui­to lon­ge dum mode­lo de lín­gua nor­mal e prá­ti­co. Com Ori­xe eu pró­prio tivem mui­tos des­acor­dos duran­te a minha juventude.

Quiçá por­que poli­ti­ca­men­te era um reacionário?

TX: Sim. Ori­xe era um reacio­ná­rio, quiçá seja essa a pala­vra. Por exem­plo, enquan­to che­gou a gue­rra, Ori­xe tinha gran­des reti­cên­cias para ir com os repu­bli­ca­nos, já que acha­va que esta­vam mais a esquer­da. O PNV um par­ti­do exces­si­va­men­te esquer­dis­ta! (risos).

Mas o PNV de Mitxe­le­na (Kol­do Mitxe­le­na, o lin­güis­ta vas­co mais impor­tan­te das últi­mas déca­das) nom era o PNV de Orixe.

TX: Sim, cla­ro, Mitxe­le­na era e foi até o fim o homem de con­fia­nça de Juan de Aju­ria­gue­rra, o que nós cha­má­va­mos o almi­ran­te do PNV, já que ele eram quem ordenava.

090711_txillardegi01E graças a Mitxe­le­na temos um Eus­ca­ro uni­fi­ca­do moderno?

TX: Graças a Mitxe­le­na foi pos­sí­vel fixar um mode­lo de Eus­ca­ro moderno, o Eus­ca­ro batua (uni­fi­ca­do), mas nom todos acei­tá­rom isto, hou­vo um gru­po que nom acei­tou as reso­luçons da Eus­kal­tzain­dia (Aca­de­mia da Lín­gua Vas­ca) esse gru­po ain­da exis­te, mas de jei­to resi­dual. Mas a gran­de maio­ria acei­ta­mos o mode­lo pro­pos­to por Mitxelena.

Foi na reali­da­de umha pro­pos­ta de Mitxe­le­na, ou tivo tam­bém um gru­po de gen­te jovem com você à cabeça que impul­sio­ná­rom para a fren­te o processo?

TX: Eu acho que nós está­va­mos, na ver­da­de, empu­rran­do. Mitxe­le­na tam­bém cos­tu­ma­va dizer que ele nom podia des­en­vol­ver aqui­lo que à juven­tu­de corres­pon­dia. Mas que, por exem­plo, a pro­pos­ta nes­ses momen­tos, nos anos 50 – 60, pro­pu­se­ram qual­quer uns fazer a uni­fi­caçom ten­do como base o Labor­tano de Lei­za­rra­ga (autor da pri­mei­ra tra­duçom da Bíblia ao Eus­ca­ro em 1571) era em exces­so arcai­zan­te. A pou­ca força que o Eus­ca­ro pos­suia con­cen­tra­va-se em Gipuz­koa, a par­tir de aí devia gerar-se a uni­fi­caçom, mas com a incor­po­raçom de ele­men­tos do Eus­ca­ro Labor­tano, por exem­plo, a uti­li­zaçom da letra ‑H- que depois gerou tan­ta polémica.

Mes­mo assim nom era umha pro­pos­ta sufi­cien­te­men­te gui­pus­coa­na para muitos.

TX: Cla­ro, com cer­te­za, por exem­plo, a uti­li­zaçom do ‑H- nom era admis­sí­vel para mui­tos, pro­vo­cou umha terrí­vel polé­mi­ca. Havia mui­ta gen­te do PNV que nom admitia.

Por­que se pro­du­zí­rom esses desencontros?

TX: O pri­mei­ro é que alguns do PNV ain­da anda­vam a pen­sar numha soluçom de tipo bis­cainho, o que em últi­ma ins­tân­cia leva a pro­pug­nar três ou qua­tro mode­los dis­tin­tos, cada um para o seu dia­le­to. Mitxe­le­na, feliz­men­te, adop­tou a via prá­ti­ca, a que depois aca­ba por se impor.

Nes­te pro­ces­so, você tivo um papel pro­ta­go­nis­ta de pri­mei­ra ordem e insis­tiu em que a uni­fi­caçom era ques­tom inadiá­vel, havia que fixar um mode­lo de lín­gua uni­fi­ca­do de for­ma urgen­te. Em con­cre­to, você foi quem lide­rou o con­gres­so de escri­to­res de Baio­na, em 1964, onde se adop­tá­rom mui­tas das deci­sons que depois fôrom rati­fi­ca­das no con­gres­so de uni­fi­caçom de Aran­tza­zu em 1968, onde se apro­vou ofi­cial­men­te a pro­pos­ta de Mitxe­le­na que é a ata ofi­cial do nas­ci­men­to do Eus­ca­ro batua. Mas a pro­pos­ta de Mitxe­le­na em mui­tos aspe­tos dava base teó­ri­ca com rigo­ro­si­da­de às pro­pos­tas de Baiona.

TX: Eu achei que era o momen­to, que tinha de ser já. Com a dita­du­ra… Tinha­mos de fazê-lo já. Havia que pôr pri­mei­ro as nor­mas, um canal, e logo viria a pro­duçom lite­rá­ria. Era o momen­to pre­ci­so. E rela­ti­va­men­te ao de Baio­na, é ver­da­de. Mitxe­le­na reconhe­ce na sua pro­pos­ta que em mui­tos aspe­tos segue os acor­dos de Baio­na, isto é algo comun­men­te sabi­do. O pro­ble­ma sur­ge que, ape­sar de todo isto, Mitxe­le­na nom con­se­guiu con­ven­cer mui­ta gen­te do PNV.

Como é que você vê nes­te momen­to a situaçom do Eus­ca­ro? Pro­gri­de? Retro­ce­de? Estanca-se?

TX: Eu sou mui­to oti­mis­ta em relaçom ao Eus­ca­ro. Ape­nas há que vê-lo. Há uns anos nom se fala­va, ape­nas os velhos. Oco­rria tam­bém em Ipa­rral­de. Eu acho que esta­mos ava­nçan­do com cla­re­za. Mas para dizê-lo em ter­mos exatos, deve­mos pes­soal­men­te remi­ter-nos para a socio­lin­güís­ti­ca, que é umha dis­ci­pli­na aca­dé­mi­ca à qual pes­soal­men­te con­si­de­ro ter fei­to um con­tri­bu­to impor­tan­te atra­vés da defi­niçom da socio­lin­güís­ti­ca mate­má­ti­ca, em Eus­ca­ro pode con­sul­tar-se Sozio­lin­guis­ti­ka Mate­ma­ti­koa, 1994 (em cola­bo­raçom com Xabier Isa­si); em cas­telhano, «Hacia una socio­lin­güís­ti­ca mate­má­ti­ca», 2001; e em fran­cês, «Pour une analy­se mathé­ma­ti­que des situa­tions bilin­gues» In: Mélan­ges en l´honneur de Per Denez, 1999, 47 – 56 que é umha ten­ta­ti­va de esta­be­le­cer ferra­men­tas e cri­té­rios cien­tí­fi­cos para medir a evo­luçom na uti­li­zaçom dumha lín­gua. Infe­liz­men­te, acho que nom tivo sufi­cien­te eco na uni­ver­si­da­de, que conheço mui­to bem, já que lecio­nei nela duran­te mui­tos anos.

Mas que é pos­sí­vel dizer daque­las pes­soas que nom pos­suem cons­ciên­cia inte­le­tual ou polí­ti­ca arrei­ga­da ou que nas suas famí­lias nom lhes trans­mi­tí­rom esse amor polo seu que os impul­sio­ne a uti­li­zar o Eus­ca­ro ou o galego?

TX: Tra­ta-se dumha ques­tom mui­to liga­da ao sen­ti­men­to, mais que à razom. Há gen­te que o sen­te, e há gen­te que nom o sen­te. Um exem­plo, o mais conhe­ci­do escri­tor que temos, Ber­nar­do Atxa­ga (Jose­ba Ira­zu) escre­veu sem­pre em Eus­ca­ro, mas em ques­tons polí­ti­cas sem­pre foi mui­to frio, mes­mo iden­ti­fi­ca­do com um par­ti­do como Izquier­da Uni­da, que nom é aber­tza­le; no entan­to, sem­pre foi mui­to fir­me na defe­sa da lín­gua vas­ca e nom é pre­ci­so dizer que todo o mun­do reconhe­ce a capa­ci­da­de lite­rá­ria enor­me que ele pos­sui. Com umha obra mui­to exten­sa dumha bele­za e qua­li­da­de extra­or­di­ná­ria. E vol­ta­mos de novo ao BNG, par­ti­do radi­cal para algumhas cou­sas e frio em outras. (sorri­sos).

Você viveu mui­tos anos na Bél­gi­ca, duran­te o seu exí­lio. Pode­ria com­pa­rar a Bél­gi­ca com a Galiza?

TX: Na situaçom atual, os gale­gos, seriam os valons dali. Os fla­men­gos som os que tenhem a potên­cia eco­nó­mi­ca, som maio­ria demo­gra­fi­ca­men­te, som os amos lá. E quem som os amos em Espanha? De todos os jei­tos, é impor­tan­te a Bél­gi­ca, mas tam­bém é impor­tan­te a Irlan­da; acho que é o úni­co país do mun­do que obten­do a inde­pen­dên­cia nom sal­vou a sua lin­gua e é impor­tan­te o exem­plo dos judeus, que dumha lin­gua mor­ta cons­truí­rom um idio­ma ofi­cial e vivo.

E os cata­láns? Con­se­guem nor­ma­li­zar a sua lín­gua se nom obti­ve­rem a independência?

TX: A inde­pen­dên­cia é pre­ci­sa, mas nom sufi­cien­te. Os cata­láns con­si­de­ram que podem con­se­guir a nor­ma­li­zaçom sem a inde­pen­dên­cia mas, nom estám certos.

E na Galiza?

TX: Acho que na Gali­za há umha gran­de mino­ria cons­cien­te. Mas, o fac­to de que o BNG nom se posi­cio­ne polo rein­te­gra­cio­nis­mo é um gra­ve problema.

E o bilingüismo?

TX: É ape­nas mito­lo­gia. Às vezes é cos­tu­me dizer: o que nós pro­po­mos é um bilin­güis­mo equi­li­bra­do. Mas, a ques­tom é quem o defen­de. Diga-me você um exem­plo, um ape­nas, um. Nom há qual­quer um. Em toda a par­te sem­pre exis­te umha lín­gua domi­nan­te. Bru­xe­las teo­ri­ca­men­te é bilin­gue, mas a gen­te fala em fran­cês, ain­da que o apa­relho admi­nis­tra­ti­vo seja total­men­te bilingue.

Vol­te­mos ao tem­po em que você escre­veu o seu pri­mei­ro roman­ce, Letu­ria­ren egun­ka­ri ezku­tua (O diá­rio ocul­to de Letu­ria, 1957), que mar­cou com pro­fun­de­za a his­tó­ria da lite­ra­tu­ra vasca.

TX: Como já dixem, escre­vim-no na Gali­za e está total­men­te empa­pa­do de exis­ten­cia­lis­mo, que é o que eu lia nes­sa épo­ca. Mas é um exis­ten­cia­lis­mo, mais na linha de Gabriel Mar­cel que na de Jean-Paul Sar­tre. Nes­se momen­to ain­da nom me atre­vim a abor­dar Sartre.

Deve­mos agra­de­cer a Kol­do Mitxe­le­na que você escre­ves­se o con­si­de­ra­do pri­mei­ro román­ce moderno em Euscaro?

TX: Eu deseja­va pôr-me a tra­du­zir em aquel momen­to e Mitxe­le­na dixo-me para nom tra­du­zir qual­quer cou­sa, que era pre­ci­so pro­du­zir obra. E assim foi, pugem-me a escre­ver, «O diá­rio ocul­to de Leturia».

090711_txillardegi00Jun­to com Letu­ria­ren egun­da­ri ezku­tua, há mais um roman­ce da sua auto­ria que tam­bém se cita mui­to, Elsa Scheelen.

TX: Escre­vim este roman­ce na Bél­gi­ca e sobre­tu­do está ins­pi­ra­da em per­so­na­gens reais.

Há um padre des­en­ga­na­do da reli­giom, umha mulher jovem, divorciada…

Letu­ria é um per­so­na­gem mui­to con­fli­ti­vo, mas todos seus pro­ble­mas som como a sua pró­pria cons­ciên­cia; em tro­ca, em Elsa Schee­len os pro­ble­mas som sobre­to­do sociais e políticos.

TX: Quan­do publi­quei Elsa Schee­len, Mikel Lasa (poe­ta vas­co con­tem­po­rá­neo) des­en­vol­veu umha crí­ti­ca mui­to for­te, dixo que era um pas­so atrás e defi­niu-na como cos­tum­bris­ta. Afe­tou-me mui­to, daque­la, eu tinha‑o idea­li­za­do como poe­ta. Com esse moti­vo esti­vem mui­tos anos sem escre­ver roman­ces. Depois escre­vim Exki­xu, um roman­ce cujo pro­ta­go­nis­ta é um mem­bro da ETA, mais tar­de Putzu, que é um roman­ce his­tó­ri­co ambien­ta­do em Donos­tia, (Sam Sebas­tiám), mas mui­to dis­tan­te já dos roman­ces anteriores.

Mas você escre­veu mui­tís­si­mo e sobre temas varia­dos. E nom ape­nas escre­veu livros ou arti­gos, tam­bém cola­bo­rou no des­en­vol­ve­men­to da cul­tu­ra vas­ca a todos os níveis, des­de o mais modes­to ao mais ele­va­do. Por exem­plo, quan­do Eus­kal­tzain­dia publi­ca as suas reso­luçons defi­ni­ti­vas acer­ca da Mor­fo­lo­gia do Ver­bo Uni­fi­ca­do (Eus­kal aditz batua, 1979), você além dumha pes­soa mui­to impor­tan­te na toma­da de reso­luçons, foi o enca­rre­ga­do pes­soal­men­te de ela­bo­rar a tábua dos ver­bos! (risos).

TX: Com cer­te­za, NOR-NORI-NORK, o NOR é azul, o NORI ver­de e o NORK ver­melho, ain­da recor­do, des­enhei eu pró­prio os qua­dros. Ace­na como se esti­ves­se a des­enhar os qua­dros e obser­van­do as suas maos recor­da­mos a sua que­da pelo piano. (mais risos). A con­ver­sa, invo­lun­ta­ria­men­te deri­va face os inte­le­tuais e o papel que des­em­penham na socie­da­de e Jean-Paul Sar­tre vem à bai­la. Quan­do Sar­tre renun­ciou ao Pré­mio Nobel, isso para mim foi algo impre­sio­nan­te, ante isso des­cu­bro-me. Sar­tre foi assim mes­mo um home valen­te que nom duvi­dou em posi­cio­nar-se a favor dos arge­lia­nos em momen­tos mui­to duros. Pugé­rom-lhe mes­mo bombas!

Para você foi um mode­lo Sartre?

TX: Com cer­te­za. Sar­tre ain­da é um mode­lo para mim. Era um home de esquer­da, mas que nom era mem­bro do par­ti­do comunista…

Você é com­pa­ra­do com o Sartre…

TX: Bom, se empenham em com­pa­rar-me com ele.

Um opo­si­tor nato, sem­pre crí­ti­co com o poder?

TX: Exato. Olha, este domin­go (16 de janei­ro de 2011) publi­ca-se no Gara umha entre­vis­ta com Fran­cis­co Leta­men­dia, um homem que foi depu­tado em Madrid, pri­mei­ro com Eus­ka­di­ko Ezke­rra e após com Herri Bata­su­na. Foi um homem que pediu a inclu­som do direi­to de auto­de­ter­mi­naçom na Cons­ti­tuiçom de 1978 e que saiu do Hemi­ci­clo ao gri­to de Gora Eus­ka­di aska­tu­ta! A raiz des­se moti­vo, tivo gra­ves pro­ble­mas na uni­ver­si­da­de para ser reconhe­ci­da a sua tare­fa inte­le­tual. Nes­ta entre­vis­ta iden­ti­fi­co-me ple­na­men­te com ele. Há que se adap­tar às cir­cuns­tán­cias, mas man­ter sem­pre umha pos­tu­ra crítica.

Após esta lon­ga con­ver­sa, caminha­mos com ele face a sua mora­da. Duran­te esse pas­seio des­co­bri­mos algo mais, um homem de famí­lia. Um homem que reconhe­ce o papel tam impor­tan­te da mulher na socie­da­de. Um homem que admi­ra e ama pro­fun­da­men­te a sua espo­sa Jone. Sem Jone, di-nos, nom seria pos­sí­vel dedi­car a sua vida à lin­gua vas­ca e à sua cul­tu­ra, per­ma­ne­cen­do fiel às suas ideias e em coerên­cia com os seus prin­cí­pios em tem­pos tam difí­ceis, para uns mais que para outros. «As minhas cir­cuns­tán­cias levá­rom-na a madu­rar à força, cui­dan­do dos nos­sos qua­tro filhos». Antes da nos­sa sau­daçom final, ace­de a foto­gra­far-se con­nos­co pacien­te e amá­vel numha praça cer­ca­da onde ago­ra está o Leom que anti­ga­men­te guar­da­va a entra­da à cida­de. Vamo-nos com a satis­façom de ter­mos tido a opor­tu­ni­da­de de conhe­cer melhor o homem e as suas cir­cuns­tán­cias, um homem como qual­quer um, mas que vale a pena que vol­te a rela­tar-nos sobre a sua vida e que nós a comen­te­mos todas as vezes que for preciso.


PERFIL DE TXILLARDEGI

Jose Luis Alva­rez Enpa­ran­tza, Txi­llar­de­gi, nas­ceu em 1929 em Donos­tia – Sam Sebas­tiám, cida­de na qual resi­de. Estu­diou Engenha­ria em Bil­bau, pro­fis­som que exer­ceu durant mui­tos anos até começar a dara aulas de Filo­lo­gia e Socio­lin­güís­ti­ca na Uni­ver­si­da­de do País Bas­co – Eus­kal Herri­ko Uni­ber­tsi­ta­tea à votla de um lon­go exí­lio. No inter­mé­dio estu­dou Lin­güí­si­ca na Sor­bo­na de Paris, dis­ci­pli­na em que mais tar­de se dou­to­rou em Bar­ce­lo­na. Após a sua refor­ma, foi nomea­do pro­fes­sor emé­ri­to da EHU/​UPV.

Apren­deu eus­ka­ra de jovem de modo auto­di­da­ta, num cli­ma em que esta lín­gua era à vez odia­da, per­se­gui­da e des­pre­za­da. Des­de o prin­cí­pio com­bi­nou o seu ati­vis­mo cul­tu­ral com umha inten­sa mili­tán­cia polí­ti­ca. A nível polí­ti­co, em 1959 foi um dos fun­da­do­res de Eus­ka­di Ta Aska­ta­su­na (ETA), orga­ni­zaçom que aban­do­nou em 1967, mas que nun­ca con­de­nou for­mal­men­te. A ele deve-se o nome da orga­ni­zaçom. Pos­te­rior­men­te tem mili­ta­do em diver­so­so par­ti­dos liga­dos à Esquer­da Aber­tza­le, o últi­mo deles Ara­lar, par­ti­do do qual, no entan­to, se des­li­gou há já mais de dous anos. Foi sena­dor elei­to em Madrid por Guipúscoa.

A nível cul­tu­ral, foi o mais deci­di­do pro­mo­tor do eus­ka­ra uni­fi­ca­do ou batua, e umha das pes­soas mais influen­tes de todo o pro­ces­so de ela­bo­raçom e adoçom do mes­mo. Como escri­tor, revo­lu­cio­nou a his­tó­ria da lite­ra­tu­ra bas­ca, com o seu pri­mei­ro roman­ce, Letu­ria­ren egun­ka­ri ezku­tua (1957), una­ni­me­men­te con­si­de­ra­da como um gran­de refe­ren­te. Tem escri­to mul­ti­dom de arti­gos e ensaios de mui­to varia­da índo­le. Som espe­cial­men­te resenhá­veis os seus impor­tan­tís­si­mos con­tri­bu­tos no ámbi­to da Soci­lin­güís­ti­ca. É indu­bi­ta­vel­men­te o inte­le­tual bas­co mais impor­tan­te da segun­da meta­de do sécu­lo XX.

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

A biblio­gra­fia de Txi­llar­de­gi é um oceano com mais de mil entra­das biblio­gra­fi­cas que, con­to­do, nom incluem mui­tís­si­mos dos seus arti­gos nos jor­nais dira­rios. Res­senha­re­mos ape­nas livros, e de entre eles tam­bém nom todos.

ROMANCES

Letu­ria­ren egun­ka­ri ezku­tua, 1957.

Peru Lear­tza­ko, 1960.

Elsa Schee­len, 1969.

Hai­zeaz bes­tal­de­tik, 1979.

Exki­xu, 1988.

Putzu, 1999.

Labar­tza­ri agur, 2005.

ENSAIO

Hun­taz eta har­taz, 1965.

Sus­trai bila. Zen­bait eus­kal koro­pi­lo, 1970.

Hiz­kun­tza eta pen­tsa­ke­ra, 1972.

Eus­ka­ra batua zer­tan den, 1974.

Eus­kal kul­tu­ra­ren zapal­ke­ta (1956 1981), 1984.

Lin­gua Nava­rro­rum, 1996.

Eus­ka­ra­ren alde­ko borro­kan, 2004.

Horre­taz, 2007.

INVESTIGAÇOM

Oina­rri bila, 1977.

Eus­kal gra­ma­ti­ka, 1978.

Fono­lo­gia­ren mate­ma­ti­kun­tza, 1978.

Eus­kal fono­lo­gia, 1980.

Eus­kal dia­lek­to­lo­gia, 1983.

Ele­bi­dun gizar­tea­ren azter­ke­ta mate­ma­ti­koa, 1984.

Eus­kal azen­tuaz, 1984.

Sozio­lin­guis­ti­ka mate­ma­ti­koa, 1994 (con X. Isasi)

Hacia una socio-lin­güís­ti­ca mate­má­ti­ca, 2001.

AUTOBIOGRAFIA

Eus­kal Herria hel­bu­ru, 1994 [exis­te umha tra­duçom para cas­telhano: Eus­kal Herria en el hori­zon­te, 1997]

- Entre­vis­ta: Donos­tia /​Eus­ka­di. 17 /​01 /​2011.

Pru­den Gar­tzia. «Aca­dé­mi­co corres­pon­dien­te de Eus­kal­tzain­dia – Real Aca­de­mia de la Len­gua Vasca».

Mon­tse­rrat Moreda.

Foto­gra­fia: Jon Urbe.

Agra­de­ci­men­to: ARGAZKI Press. Donos­tia, Euskadi.

www​.argaz​ki​press​.com

O Diá­rio Liber­da­de agra­de­ce à revis­ta Tin­ti­mám a ces­som des­ta valio­sa entre­vis­ta publi­ca­da no núme­ro 2 da sua revis­ta, publi­ca­da recen­te­men­te em Vigo.


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